Família de rapaz morto questiona ação da PM na zona leste

Morto após ação da PM, Rafael tinha 23 anos e deixa um bebê de dois meses Reprodução/Facebook
Morto após ação da PM, Rafael tinha 23 anos e deixa um bebê de dois meses Reprodução/Facebook

Rafael Aparecido Almeida de Souza, de 23 anos, foi atingido por um disparo efetuado durante abordagem policial. Morte gerou protestos de moradores

07/05/2019 – 10:23


 

Morto após ação da PM, Rafael tinha 23 anos e deixa um bebê de dois meses Reprodução/Facebook
Morto após ação da PM, Rafael tinha 23 anos e deixa um bebê de dois meses Reprodução/Facebook

 

SÃO PAULO (R7) – A família de Rafael Aparecido Almeida de Souza, de 23 anos, está chocada e cobra explicações da Polícia Militar sobre a morte do rapaz, atingido por um tiro no peito durante abordagem no início da madrugada do último sábado (4), ocorrida em uma travessa da Avenida Aricanduva, no Jardim Nove de Julho. O caso gerou protestos da população do bairro.

No momento da ação, parentes de Rafael faziam um churrasco na frente da casa do rapaz, quando uma viatura da PM abordou o irmão da vítima e outro homem. O jovem teria se ausentado para pegar a identidade do irmão, que estava sem os documentos e, quando retornou, mesmo à distância, foi baleado.

“A viatura estava a uns 50 metros [de Rafael]. O único erro dele foi estar em uma festa com a família”, declarou o metalúrgico Rogério Aparecido de Souza, tio de Rafael, que havia deixado a confraternização pouco antes, mas voltou após ouvir o disparo.

No boletim de ocorrência, os policiais militares alegaram que o jovem foi atingido por um disparo acidental, após uma terceira pessoa ter tentado tomar a arma de um deles durante a ação.

Rogério contou que o sobrinho trabalhava como metalúrgico, mas estava desempregado e fazia bicos para compor a renda da família e sustentar o filho de dois meses. “Ele sempre sustentou a família. Não tinha antecedentes criminais. Ninguém na família tem”, enfatizou.

Testemunhas da ação também denunciaram a omissão por parte dos policiais militares. que teriam deixado o local sem tomar providências para socorrer o ferido, que foi levado por parentes e amigos para o Hospital São Mateus, mas não resistiu.

“Eles foram embora sem prestar socorro nem nada. Simples assim. {O PM] Não perguntou nada. Efetuou um tiro, sem mais nem menos. Sem saber quem era”, disse Jonatas, primo da vítima, que foi sepultada nesta segunda-feira no Cemitério da Vila Formosa, também na zona leste da capital paulista.

Corregedoria da PM e Ouvidoria das Polícias apuram

Familiares de Rafael devem comparecer à sede da Corregedoria da PM, nesta terça-feira (7), para serem ouvidos na investigação interna da corporação que apura a conduta dos policiais militares da 2ª Companhia do 38º BPM-M.

A Ouvidoria das Polícias de São Paulo instaurou um procedimento para acompanhar a apuração do caso no DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa), responsável pelo inquérito na Polícia Civil, e na própria Corregedoria da PM.

“Também solicitamos laudos técnicos da Polícia Técnico-Científica. Ainda é cedo para se ter uma avaliação sobre o caso”, comentou Benedito Mariano, ouvidor geral das polícias.

No boletim de ocorrência encaminhado ao DHPP, o caso foi tratado como “morte decorrente de intervenção policial” devido à resistência do suspeito.

Testemunhas denunciam ameaças

De acordo com o conselheiro do Condepe (Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana) Ariel de Castro Alves, Após os fatos, policiais militares teriam feito a ameaças a colegas de Rafael em incursões pelo bairro. “Existem indícios de que o jovem foi executado”, revelou o advogado.

Outro lado

Na versão dada pelos policiais militares no boletim de ocorrência, Rafael teria sido atingido por um disparo acidental, após uma pessoa que estava em um grupo que protestava contra a abordagem policial,  ter tentado pegar a arma de um dos PMs.

R7 procurou a Polícia Militar, mas até a publicação desta reportagem, não recebeu resposta.