Advogado Ariel de Castro Alves, membro do Grupo Tortura Nunca Mais, falou que policial militar pode responder pelos crimes na Polícia Civil. PM abriu inquérito para apurar a conduta do agente. Pasta da Segurança não informou quem é o homem puxado
g1
SÃO PAULO — O policial militar que aparece num vídeo divulgado nas redes sociais puxando um homem negro algemado a uma moto da corporação pode responder por crimes de tortura, racismo e abuso de autoridade, segundo um especialista em direitos humanos ouvido pelo g1. O caso ocorreu por volta das 15h de terça-feira (30) na Avenida Professor Luiz Ignácio de Anhaia Mello, na região da Vila Prudente, Zona Leste de São Paulo. A reportagem registrou a denúncia no mesmo dia.
“O PM deve responder por crimes de tortura e abuso de autoridade”, falou nesta quarta-feira (1º) o advogado Ariel de Castro Alves, membro do Grupo Tortura Nunca Mais. “E dependendo do depoimento da vítima e de testemunhas, por racismo também.”
Por meio de nota, a Polícia Militar (PM) informou que abriu um Inquérito Policial Militar (IPM) para apurar o caso e que “repudia tal ato” (veja a íntegra da nota ao final da reportagem).
Segundo Ariel, os crimes de tortura, racismo e abuso de autoridade contra o policial militar poderiam ser investigados pela Polícia Civil em paralelo à apuração da Corregedoria da PM.
“Nesse caso pode ter inquéritos na Polícia Civil e IPM na Corregedoria”, disse o membro do Grupo Tortura Nunca Mais.
Vídeo
O vídeo foi gravado por pessoas que estavam dentro de um veículo e que depois compartilharam as imagens na internet. A gravação viralizou e repercutiu na web provocando críticas e reações de quem a assistiu.
Nas imagens é possível o homem de calça preta e camiseta de manga comprida, correndo atrás de uma moto conduzida por um policial militar em São Paulo. Ele está algemado e as algemas estão presas ao baú da motocicleta.
O homem corre para conseguir acompanhar a moto do PM, que avança por meio da faixa de ciclistas de uma avenida.
Em um determinado momento do vídeo, é possível escutar um outro homem não identificado dizendo: “Olha aí, ele algemou e está andando igual um escravo”.
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O ouvidor das Polícias do estado, Elizeu Soares Lopes, afirmou que irá pedir para a PM apurar a conduta do agente.
“Isso é uma atrocidade. Vamos tomar as devidas providências. Abriremos um procedimento”, falou o ouvidor sobre um documento que será encaminhado para a Corregedoria da PM pedindo celeridade na apuração do caso.
“As imagens são estarrecedoras, um completo desapreço a dignidade humana, nenhum ser um humano em pleno século XXI, pode ser ultrajado dessa forma. A conduta do agente policial não coaduna com os protocolos da PM, que deve repelir tal atitude”, afirmou Elizeu.
Até a última atualização desta reportagem a Secretaria da Segurança Pública (SSP) não havia informado a identidade do policial militar e do homem algemado puxado por ele na moto. Segundo policiais ouvidos pelo g1, o homem teria sido detido por suspeita de algum crime, sendo levado depois a uma delegacia, onde teria sido liberado.
O que diz a PM
Por meio de nota, a Polícia Militar informou que a corporação apura o caso. Segundo fontes do g1, o policial militar que puxa o homem negro algemado a moto foi identificado e afastado do trabalho nas ruas enquanto durar as apurações contra ele. O IPM servirá para avaliar a conduta do agente. Se for punido, ele poderá ser advertido, suspenso e até expulso.
“A Polícia Militar, imediatamente após tomar ciência das imagens, determinou a instauração de um inquérito policial militar para apuração da conduta do referido policial e o seu afastamento do serviço operacional. A Polícia Militar repudia tal ato e reafirma o seu compromisso de proteger as pessoas, combater o crime e respeitar as leis, sendo implacável contra pontuais desvios de conduta”, informa o comunicado da corporação.
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