Izaque Martins de Oliveira foi detido em flagrante pela polícia em quatro anos consecutivos, mas está fora da cadeia e continua atuando com comparsas no Centro de São Paulo
G1
São Paulo
Izaque Martins de Oliveira, de 22 anos, caminha pelas ruas do Brás, no Centro de São Paulo, como se fosse mais um dos milhões de compradores que passam pela região a poucos dias do Natal. Ele, porém, não faz nenhuma compra. Sequer entra nas lojas. A razão do jovem estar ali é outra: furtar carteiras, celulares e demais pertences dos desavisados – e também dos mais precavidos.
A reportagem do Fantástico passou uma semana filmando a movimentação nas ruas do Brás, um dos principais centros de compras do país, e Izaque estava lá em ao menos quatro oportunidades, sempre em busca de pessoas para roubar. As imagens feitas pelo produtor William Santos mostram que ele usa sempre a mesma estratégia: finge estar distraído, com a mão na frente do corpo e uma blusa no braço.
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Experiente, o ladrão usa o grande vai e vem de pedestres a seu favor e mostra facilidade em subtrair objetos alheios sem que as pessoas percebam. As investidas nem sempre são bem-sucedidas, mas o criminoso consegue furtar até mesmo aqueles que já conhecem a má fama da região. Em um dos flagrantes feitos, ele tira a carteira de dentro de uma mochila, mesmo com ela na frente do corpo da vítima.
A audácia de Izaque tem explicação. Ele sabe que, mesmo se for pego, não ficará na cadeia. Velho conhecido da polícia, já foi preso em flagrante em 2014, 2015, 2016 e também em 2017. Em todas as vezes, foi solto logo depois. O criminoso responde em liberdade a três processos e nunca foi condenado. E o caso dele está longe de ser único. A delegacia da região tem fotos de dez mil suspeitos de praticar roubos e furtos no Brás.
Assim como a maioria dos bandidos do bairro, Izaque costuma agir em grupo. Uma das parceiras habituais é Alessandra Pereira, de 22 anos, que só neste ano foi presa duas vezes. Mas há outros já identificados pela polícia, como Raphael Gomes de Souza. Segundo o delegado Eder Pereira e Silva, os criminosos da área têm em comum a pouca idade e a falta de um emprego. O esquema é simples: enquanto um distrai, o outro ataca.
Ainda de acordo com o delegado, a aglomeração de pessoas no Brás cria um ambiente propício para a ação dos ladrões. “Naquele empurra-empurra, a pessoa acaba não sentindo [o furto]”, explica. Para ele, o efetivo policial disponível também pouco ajuda na coibição dos crimes. “A polícia está lá. A PM está com mais de 400 homens no local, mas com um milhão, dois milhões de pessoas, 400 não faz muito efeito”, conclui.