Donos de animais “acampam” nas portas de hospitais veterinários públicos em SP

No Tatuapé, formam-se longas filas logo cedo (Sidney Pereira/32xSP)
No Tatuapé, formam-se longas filas logo cedo (Sidney Pereira/32xSP)

Diminui a oferta de atendimento e os donos dos animais “madrugam” nas filas nas portas das unidades na Parada Inglesa, zona norte, e no Tatuapé, zona leste

21/04/2019 – 18:00


 

No Tatuapé, formam-se longas filas logo cedo (Sidney Pereira/32xSP)
No Tatuapé, formam-se longas filas logo cedo (Sidney Pereira/32xSP)

 

SÃO PAULO (32xSP) – Cadeiras, almofadas e até barracas de camping. Vale tudo para chegar cedo, pegar uma senha e aguardar atendimento gratuito no hospital veterinário público de São Paulo.

Gigantescas filas têm se formado já no início da madrugada, em função da diminuição no número de animais atendidos e de boatos sobre o fechamento das duas unidades, na Parada Inglesa, zona norte, e no Tatuapé, zona leste.

A Anclivepa, associação que gerencia o projeto municipal, admite o corte e alega que chegou a atender 600 animais/dia, número bem superior ao previsto em contrato, de 70 consultas normais e 30 de emergência.

A entidade informa que “continuará se esforçando, por razões humanitárias, em atender cães e gatos enfermos, mesmo além das quantidades contratadas”.

Já a prefeitura garante que não haverá interrupção no serviço, com a assinatura de um contrato emergencial para o funcionamento do hospital por mais seis meses, a partir de janeiro.

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Em entrevista ao 32xSP, o secretário-adjunto municipal da Saúde, Eduardo Ribeiro, diz que o funcionamento “está garantido para 2019 e anos seguintes”.

Ele afirma que o contrato vence em 31 de dezembro, e que os procedimentos para o novo convênio estão em andamento. Ribeiro revela que a prefeitura quer ampliar a oferta, inclusive com mais uma unidade hospitalar em outra região da cidade.

Ele também confirma que o contrato com a Anclivepa “sempre previu 100 atendimentos diários. Acima dessa quantidade, é decisão da empresa”, destaca.

Dramas de “Cortar o coração”

Os boatos sobre o fim do hospital veterinário geraram preocupação entre os donos dos animais e uma petição pública pedindo o não fechamento já tem mais de 15 mil assinaturas.

A autora, a professora Camila Prieto, 39, moradora do Mandaqui, comenta que uma funcionária avisou que o local iria fechar em dezembro e então decidiu iniciar o abaixo-assinado.

Ela é dona do vira-lata Tobi, 14, xodó da família e que, há um ano, teve o diagnóstico de hérnia de disco, seguido de paralisia das patas traseiras.

 

O cão Tobi está com paralisia nas patas e usa carrinho para passear (Sidney Pereira/32xSP)
O cão Tobi está com paralisia nas patas e usa carrinho para passear (Sidney Pereira/32xSP)

 

Tobi passou por duas cirurgias, na unidade Tatuapé, e agora terá nova intervenção para a retirada de um nódulo no baço. A professora conta que viu um aviso sobre a redução do número de atendimentos.

“Presenciei diversas pessoas indo embora, com o bichinho doente. Foi de cortar o coração”
Camila Prieto, moradora do Mandaqui

“Ouvi histórias tristes, de pessoas que resgatam animais atropelados ou da rua, outras solitárias, que só têm o bichinho como companhia e estão ali lutando pela vida dele. No dia 31 de outubro, chegamos às 6h da manhã e saímos somente às 18h30”, completa.

Na unidade da Parada Inglesa, o aposentado Edgard de Oliveira, 64, é o primeiro da fila de cerca de 60 pessoas. Ele chegou às 2h50 da madrugada, trazendo a Neguinha, 18, uma vira-lata resgatada da rua, assim como os outros seis animais de que cuida.

“Surgiu um nódulo debaixo da língua dela, vai fazer cirurgia, mas está em tratamento, pois deu alteração no exame de sangue”, explica.

Oliveira mora no Ipiranga, aprova o trabalho dos funcionários, mas vê “falhas na estrutura”.

Terceiro da fila, o também aposentado Bento Henrique, 72, da Casa Verde, diz que a unidade do Tatuapé é a mais lotada.

“Já vi armarem barracas na porta do hospital. Hoje, saí de casa às 3h30, para trazer o Floki”
Edgard de Oliveira, aposentado

O labrador mestiço, de um ano e dez meses, vai passar pelo dermatologista. “Quem vem mais aqui é o Puff, meu poodle de 17 anos. Ele não enxerga e está com infecção nos olhos. Aqui o atendimento é bom, o problema é a demora”, conta.

Além das unidades municipais, a Anclivepa presta atendimento gratuito na zona oeste, à Rua Manuel Jacinto, 249 – Vila Sonia. O local é mantido por empresas do ramo veterinário.

Serviço

Hospital Veterinário Público de São Paulo

Especialidades: 
Cardiologia, cirurgia geral, clínica médica, dermatologia, endocrinologia, neurologia, odontologia, oftalmologia, oncologia e ortopedia

Zona norte: 
Av. General Ataliba Leonel, 3.194 – Parada Inglesa.

Zona leste: 
Av. Salim Farah Maluf, esquina com a Rua Ulisses Cruz, 285 – Tatuapé.

Funcionamento: 
2ª a 6ª feira, com entrega de senhas às 6h.

Exigências:
Documento pessoal e comprovante de endereço da cidade de São Paulo.

* Sidney Pereira