Situado no extremo-leste da cidade, a região marcada pela influência dos nordestinos tem espaços muitos culturais e de lazer
R7
SÃO PAULO — O Itaim Paulista, de forte influência da cultura nordestina e mais populoso bairro da Zona Leste de São Paulo, comemora 410 anos nesta segunda-feira (21). A pandemia da covid-19 impediu a realização de festas com a presença de público, mas, de acordo com a Subprefeitura da região, a data não passará despercebida.
Um bolo de aniversário em formato do símbolo oficial do bairro será levado pela confeiteira do bairro Ana Paula Augustinho até a Praça Silva Teles, onde está instalada a “Mão que Segura Pedra Pequena”, uma escultura de três metros, feita em aço inox e considerada o principal símbolo do Itaim. Projetada pelo artista plástico Juarez Martins, morador da região, a estátua tem na ponta dos dedos uma pequena pedra que simboliza o nome do bairro (pedra pequena, em tupi-guarani).
O Itaim é palco de diversas manifestações artísticas e culturais. Música, teatro e dança têm o toque da criatividade e inspiração da vida na periferia, assim como construções, equipamentos públicos e áreas de lazer do bairro — que também a abriga a primeira casa de cultura criada pela Prefeitura de São Paulo, inaugurada em abril de 1985. “O Itaim é um celeiro cultural”, destacou a a microempreendedora, ativista cultural e presidente da escola de samba do bairro, Cássia Lima.
Para a moradora, a resiliência e a solidariedade de pessoas que vieram de longe com o sonho de uma vida melhor, que enfrentaram muitas dificuldades nessa caminhada em busca der emprego, moradia, educação para os filhos, são as principais características da população local.
“É um bairro periférico, o último de São Paulo, porque faz divisa com Ferraz de Vasconcelos, Guarulhos, Itaquaquecetuba e Poá. A gente até brinca que é um mundo dentro de outro mundo. A solidariedade, a resiliência e a vontade de querer mais do povo que mora aqui [são as características que mais a orgulham]. Está sempre se reinventando. Um povo muito alegre”, enfatizou a moradora, filha de uma migrante de Pernambuco que chegou ao bairro em 1962. “Escolheu o Itaim Paulista para fincar as suas raízes na terra da garoa”, complementou.
Passado bucólico
Cássia conta que ainda se lembra de um tempo em que o Itaim Paulista era uma região que vivia da agricultura, especialmente até a década de 1970. “Eu era pequena, lembro que aqui havia fazendas, de mixirica, de caqui. Foram loteando essas fazendas. Tinha muitas histórias, alguns mitos. A gente brincava, pegava frutas, tomava água da bica, nadava nos rios.”
Naquele tempo, a estrutura e os deslocamentos pelo bairro ainda eram precários, conforme diz a microempreendedora. “A [avenida] Marechal Tito era a antiga São Paulo-Rio. Antes, só tinha uma linha de ônibus. Eu morava em uma fazenda, estudava no centro do Itaim. A gente vinha andando a pé e tinha que trocar os sapatos na escola, porque estavam sujos de barro. Se hoje o Itaim Paulista precisa de muita coisa, imagine naquela época. Estamos falando da década de 1980”, relembrou.
No entanto, Cássia diz que testemunhou muitas mudanças na vida dos moradores do Itaim Bibi nas últimas três décadas em vários setores. “O que me orgulha mesmo é a força e a garra dessas pessoas que aqui habitam, que acabam fazendo ser um lugar especial para mim. É difícil, mas a gente vê [o resultado] a luta das nossas mães, em busca de creche, moradia, saneamento básico e todas as melhorias que um bairro precisa. Não é só questão de identificação. Muito mais o sentimento de morar no Itaim Paulista”, finalizou.
Originalmente, o Itaim era cortado pelo Rio Tietê. Porém, os limites do bairro foram modificados pela administração municipal, há cerca de 20 anos, conforme conta Euclides Mendes, de 50 anos, outro filho de nordestinos, um líder comunitário que nasceu e mora até hoje na região da Vila Itaim.
Segundo o morador, conhecido como Kiko, os vários córregos na geografia do bairro ainda influenciam a vida dos mais de 224 mil habitantes da região (segundo dados publicados pela Prefeitura de São Paulo, coletados em 2010), mas é a linha férrea uma das principais marcas da região na atualidade. Hoje, a linha da CPTM (Companhia Paulista dos Trens Metropolitanos) divide o Itaim de São Miguel Paulista.
“Itaim Paulista é CPTM. Novas estações refletiram em todo o bairro. O problema antes era a travessia, porque o bairro era cortado pelos trilhos. Antes, tinha até porteira. Na década de 1980, foram feitas duas passagens com viadutos, o que desafogou o trânsito e trouxa uma cara nova para o bairro”, frisou Kiko.
O líder comunitário também demonstrou um carinho especial pelo Parque Biacica, inaugurado em 2018, em uma área de 140 mil m², totalmente revitalizada e que integra Parque Várzeas do Tietê. Situado em um dos pontos mais antigos do bairro, o parque foi batizado com o nome da fazenda pertencente ao fundador do Itaim Paulista.
A data do aniversário do bairro faz referência ao ano de 1611, quando o bandeirante Domingos de Góes virou sesmeiro das terras da região do Boi Sentado, às margens do Rio Tietê, posteriormente passadas ao controle dos padres Carmelitas.
Mais tarde, a região passou a ser conhecida por Itahim (pedra pequena em Tupi) e, depois, recebeu o segundo nome “Paulista”, para diferenciar da região do Itaim Bibi, na Zona Sul paulistana. Por estar ao lado da linha férrea, o crescimento do bairro foi automático. O desenvolvimento aconteceu de forma natural, mas, o Itaim Paulista foi elevado à condição de distrito autônomo de São Miguel em 1980.
O Itaim Paulista começou a receber seus primeiros moradores apenas no final do século 18, com a chegada da Ferrovia Estrada do Norte. A construção de uma estação trouxe ainda mais habitantes para a região. “Houve grandes transformações com a chegada da linha da CPTM. Isso ajudou muito. Aqui a paixão é pelos trens e não ônibus, por ser mais rápido”, ressaltou o líder comunitário do bairro Euclides Mendes.
Veja imagens que contam a história do Itaim Paulista, em São Paulo:
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